quinta-feira, 17 de junho de 2010

Empresa tenta lucrar com banheiros limpos no Centro de BH



Daniel Camargos - Estado de Minas

Publicação: 28/05/2010 06:27 Atualização: 28/05/2010 08:26

Detalhe da Banheiros Limpos, criada em outubro na capital, depois  de investimento de R$ 130 mil. Consumidor paga R$ 0,75 pelo uso - (Beto  Novaes/EM/D.A Press)


Detalhe da Banheiros Limpos, criada em outubro na capital, depois de investimento de R$ 130 mil. Consumidor paga R$ 0,75 pelo uso


O aspecto limpo, com azulejos brancos, inox reluzindo e cores que remetem a produtos de limpeza não são coincidência. Fazem parte da estratégia e reforçam a proposta da Banheiros Limpos, uma empresa que tem como atividade comercializar o uso de banheiros higiênicos no Centro de Belo Horizonte, na Rua da Bahia, quase na esquina com Rua Caetés. O slogan é um vatícinio da condição humana: "Alguma hora você vai precisar".

No Centro de Belo Horizonte, principalmente, as pessoas que precisam não encontram locais onde possam aliviar as necessidades gratuitamente. O Mercado Central, por exemplo, cobra R$ 0,50. Passam pelos banheiros do local cerca de duas mil pessoas por dia. Já o Shopping Cidade, tem uma circulação diária de 70 mil pessoas, e é único centro de compras que cobra pelo uso do banheiro na capital (R$ 0,50). Apesar do movimento intenso nos toaletes espalhados nos diversos andares, o shopping não se orgulha da tarifa, tanto que, questionado sobre o faturamento e frequência, não respondeu.

“Fizemos uma pesquisa de mercado e nos inspiramos nos modelos dos shoppings”, afirma Vander Salomé Pires, um dos três sócios da Banheiros Limpos. O investimento para transformar o ponto, que era de uma loja de R$ 1,99 no negócio foi de R$ 130 mil. Pires conta que a ideia foi de outro sócio, que viaja bastante e tem dificuldade de encontrar banheiros em boas condições nos centros das capitais.

Porém, desde a inauguração, em outubro do ano passado, o movimento de pessoas dispostas a pagar R$ 0,75 para usar o banheiro ainda não é suficiente para fechar a conta: cerca de 400 aflitos ao dia durante a semana, 250 aos sábados e 100 aos domingos. Como fica em frente à Praça da Estação o local chegou a faturar quando ocorriam eventos no local, mas com a proibição da Prefeitura de Belo Horizonte de shows e outros espetáculos de grande porte na área restam os apertados do cotidiano. O local funciona das 7h às 21h e, segundo Pires, o objetivo é ter um banheiro que qualquer pessoa usaria, sem restrição. “Tem que estar sempre limpo e asseado e isso gera gasto, com materiais de qualidade e também com água”, calcula o sócio.

O banheiro masculino (testado pela reportagem) tem seis mictórios e 12 cabines com privada, sendo uma preparada para portadores de necessidades especiais, além de um chuveiro. Isso mesmo, também é possível tomar banho. Neste caso, o preço é R$ 8, com 10 minutos de chuveiro ligado, toalha e sabonete. Os três sócios não tinham experiência anterior com banheiros – são dois analistas de sistemas e um contador –, mas apesar de ainda estarem pagando o investimento, eles acreditam no projeto, tanto que no estudo que fizeram já vislumbram outros cinco pontos em Belo Horizonte com potencial para abrigar a Banheiros Limpos.

O vigilante Rafael da Silva Kalunga já virou freguês. Na quinta-feira, quando deixava o serviço no início da tarde, passou pelo banheiro antes de seguir o caminho de casa, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. "Quando cobram assim é bom porque não dá muita sujeira", analisa Rafael, que antes da inauguração da Banheiros Públicos, pagava para usar o banheiro da rodoviária. "Nem sempre dá tempo de chegar em casa nessa correria. Tem que relaxar um pouquinho. Sabe como é que é, né?"

O presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia, Ricardo Furtado, compreende o vigilante perfeitamente e aconselha que todos relaxem. O médico diz que na hora do xixi é importante desestressar, contar até 30 depois de terminar e fazer força para não ficar nenhum resíduo na bexiga. Especialista no assunto, o médico afirma que prender a urina é um péssimo negócio: "Pode causar infecção urinária, levar ao cálculo renal e até ocasionar a perda do rim", explica Furtado.

Copo sujo

"Acho que vale a pena pagar R$ 0,75. É muito melhor que enfrentar os banheiros imundos dos botecos", diz Grisolina Oliveira Esteves, moradora do Bairro Ravena, em Sabará, que veio ao Centro visitar o filho em um hospital e já virou freguesa da Banheiros Limpos. Antes, ela usava o banheiro da agência do Banco Itaú, da qual é cliente, mas se incomodava com a chateação de ter que tirar todos os objetos de metais da bolsa.

O dinheiro que Grisolina gasta no banheiro seria suficiente para comprar quase três pastéis na esquina das Ruas Caetés e Bahia (R$ 1). Também é mais do que os bares da Avenida Aarão Reis cobram pelo uso dos banheiros (R$ 0,50), que tem uma realidade - e proposta - bem distante da Banheiros Limpos. São bares que não estampam letreiro com o nome, mas há na porta do banheiro cartazes pregados restringindo o uso aos clientes e exibindo o preço em letras grandes: R$ 0,50. O ponto é estratégico, pois é em frente a diversos pontos de ônibus e na hora do aperto, muitas vezes, a limpeza não é levada em conta.


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